O Governo de Roraima vem trabalhando em várias frentes para apoiar os trabalhadores do campo e amenizar os efeitos da praga da lagarta que afetou a bovinocultura e áreas de produção de seis municípios do Estado.
Até o início do mês de julho, o Iater (Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural) identificou 54.084 hectares de pasto que foram atingidos e 7.349 animais que morreram sem o alimento, que é a maior fonte de nutrientes de um rebanho. Os dados foram obtidos em 846 diagnósticos feitos pelos técnicos do órgão estadual.
Mais recentemente, iniciou-se uma nova fase do processo com a recuperação de pastagens com tratores. O trabalho iniciou ao longo da semana passada, na região do Apiaú, no município de Mucajaí. A ação vem ocorrendo com explicações de representantes presentes dos órgãos estaduais do eixo de desenvolvimento sobre a atual situação, assim como as medidas que já estão sendo aplicadas.
Todo o processo é feito pelo Governo por meio de parceria entre o Iater, a Seadi (Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação), a Aderr (Agência de Defesa Agropecuária do Estado de Roraima) e a Desenvolve RR para identificar as áreas atingidas e auxiliar, em todas as frentes, o pequeno, médio e grande produtor prejudicado com a praga, conforme determinação do governador Antonio Denarium.
“É um momento muito delicado e os mais prejudicados têm sido os pequenos produtores. Muitos gados morreram por conta da falta de pasto e agora estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para que esses produtores possam recuperar seus pastos e a produção bovina. Sem contar que é um fenômeno que impacta a economia, por isso estamos atuando de maneira incisiva para mitigar os efeitos imediatos, mas principalmente os de médio e longo prazo”, declarou o governador.
O avanço da praga durante a mudança do período seco para o chuvoso motivou o Governo de Roraima a criar o Programa Emergencial de Apoio à Pecuária Familiar. Estão entre as medidas previstas:
- Fornecimento de recursos hídricos para consumo humano e animal;
- Apoio técnico para a recuperação de pastagens;
- Cobertura de até 90% dos recursos utilizados para financiamento e fomento agropecuário;
- Renegociação de dívidas dos produtores rurais afetados;
- Abertura de crédito extraordinário para atender a despesas imprevisíveis e urgentes.
O presidente do Iater, Marcelo Pereira, explicou que o Governo trabalha neste momento no processo de preparação das áreas atingidas, e posteriormente, será iniciada a fase de fomento ao crédito.
“Vamos beneficiar os produtores atendidos com crédito, de acordo com o decreto emergencial sobre as pastagens atacadas pela lagarta. Inicialmente estamos levando tratores para preparar essas áreas atingidas e viabilizar a recuperação dessas pastagens, que é tão necessária para que esses produtores possam focar e viabilizar a criação de animais”, disse.
Estresse hidrico e desequilíbrio ambiental agravaram impactos da praga da lagarta
Alguns fatores específicos foram decisivos para a proliferação da praga da lagarta nas áreas de pasto em seis municípios, com destaque para Mucajaí e Iracema, que foram mais atingidos em termos de área. Somados, os dois municípios contabilizam prejuízo financeiro estimado em mais de R$ 79 milhões.
O cálculo realizado pelo corpo técnico da Seadi considera o prejuízo direto na perda de animais e morte das pastagens, tendo como referência o valor médio da unidade animal e a estimativa com o posterior preparo e correção química dos solos para replantio das pastagens, que também terão necessidade de investimentos.
Porém, estes prejuízos podem ainda ser maiores à medida que é contabilizada a perda de peso dos animais e a queda de produção futura por falta de ganho de peso dos rebanhos nos próximos meses. A situação poderá apresentar reflexos negativos futuros no setor pecuário na medida em que afeta a geração de empregos, prestação de serviços e o comércio de insumos pecuários.
O coordenador regional do Iater, Francisco Maciel, explica que o primeiro fator para o quadro foi a forte incidência do fenômeno El Niño, que ocasionou aumento nas temperaturas em Roraima durante o período seco. Com a vegetação desidratada, o número de incêndios florestais aumentou, causando desequilíbrio ambiental não somente na região de Mucajaí, mas em todo o Estado.
“Com o desequilíbrio do ambiente, houve a diminuição dos inimigos naturais que controlam algumas pragas e insetos, que foi o que aconteceu no caso da lagarta. Quando tivemos um desequilíbrio ambiental em razão desse estresse pelo El Niño, isso fez com que diminuíssem os predadores e tivéssemos essa lagarta bem forte, porque o pasto estava seco nas primeiras chuvas e ele começou a brotar. Com a brotação desse pasto, a lagarta veio e se alimentou dessa primeira brota, fazendo com que essa pastagem morresse”, frisa Maciel.
Essa somatória de fatores atrapalhou a vida de pequenos produtores da região do Apiaú, no município de Mucajaí, como o pecuarista Jesuíto Gomes da Costa, de 66 anos. Agricultor na região há três décadas, o morador da Vicinal 8 perdeu 35 gados. Antes do problema, ele tinha um pouco mais de 200 gados.
“A nossa situação está muito difícil, porque a gente está plantando e a lagarta está comendo e atacando. Agora está aparecendo mais praga porque estão passando uns passarinhos e eles estão comendo a semente que a gente está jogando. Cada vez fica mais difícil, mas eu espero que Deus abençoe e que dê uma abaixada nisso”, relatou.
Outro produtor da região prejudicado com a praga da lagarta é Antonio Costa, de 63 anos, que perdeu todo o pasto e, como consequência, perdeu 25 gados de sua propriedade, fora os demais que morreram por não se adaptarem em novas áreas onde o produtor levou a produção pecuária. Antes da problemática, o homem tinha 120 gados no pasto.
Costa avaliou ser positiva a iniciativa emergencial do Governo em levar o auxílio técnico e especializado para os pecuaristas do Estado visando conter os prejuízos contabilizados.
“Pelo fato de ter essa situação da praga da lagarta, para mim está sendo uma ideia muito boa, pois ajuda quando a gente não pode fazer quase nada. O que a gente tinha era um gadozinho que vendia para conseguir um dinheirinho e agora não tem mais nem um gado nem nada. Ninguém está achando nem comprador de gado aqui na região”, avaliou.
Comentários: