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Surumu celebrará Jubileu dos Povos Indígenas e reafirma papel histórico na luta por direitos

Local onde nasceram as primeiras assembleias indígenas de Roraima recebe encontro que resgata memória, e resistência dos povos da Raposa Serra do Sol.

Surumu celebrará Jubileu dos Povos Indígenas e reafirma papel histórico na luta por direitos
Foto Lucas Rosseti - Rádio Monte Roraima fm
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A Terra Indígena Raposa Serra do Sol, palco de uma das mais emblemáticas lutas pela demarcação de terras no Brasil, volta a ser centro de mobilização, memória e espiritualidade com a realização do Jubileu dos Povos Indígenas neste fim de semana. O evento ocorrerá na região do Surumu, onde a caminhada pela autonomia e pelos direitos dos povos originários de Roraima teve início ainda na década de 1970.

Mais que uma celebração, o Jubileu marca um reencontro com a história e com os princípios que nortearam as primeiras assembleias dos tuxauas, líderes tradicionais que, enfrentando violência e invasões, decidiram se unir para proteger suas terras, culturas e modos de vida. Foi justamente em uma dessas assembleias, realizada na comunidade Barro, em 1971, que germinou a semente de uma grande organização indígena.

Padre Giorgio Dal Bem, missionário italiano que chegou à Raposa Serra do Sol em 1972 e fundou a Missão Maturuca, destaca a profundidade histórica e espiritual deste momento:


“A partir da Palavra, passou-se a um projeto de Deus, e essa jornada foi muito frutífera. Em 1977, houve uma reunião histórica aqui chamada de ‘ou vai ou racha’, na qual algumas lideranças do povo decidiram abandonar a bebida e a desunião, buscando garantir a vida do povo indígena e da comunidade. Desde então, desenvolveram muitos projetos ao longo dessa história.”

Esse encontro, conhecido como a Assembleia do Vai ou Racha, ocorreu na comunidade indígena Maturuca, e representou um divisor de águas. Além de romper com o uso de bebidas alcoólicas, que fragilizavam as comunidades, as lideranças decidiram fortalecer a unidade entre as regiões. Dessa decisão nasceram os conselhos regionais — estruturas que permitiram maior articulação e resistência frente à exploração ilegal das terras por fazendeiros, garimpeiros e outros invasores.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR), hoje referência na luta pelos direitos indígenas, teve suas raízes lançadas nesses encontros. A formalização do CIR ocorreu em 1990, logo após a transformação de Roraima em estado, mas a trajetória de organização coletiva vinha de duas décadas antes. Um dos primeiros conselheiros regionais foi o tuxaua Gabriel Macuxi, da região Raposa.

A terra Raposa Serra do Sol foi por décadas alvo de disputas e violência. A luta pelo reconhecimento e pela demarcação durou mais de 30 anos, com confrontos que deixaram marcas profundas nas comunidades. Muitos indígenas foram expulsos, outros assassinados, mas a resistência permaneceu firme. Em 2005, a terra foi finalmente homologada, tornando-se um marco jurídico e político para os direitos indígenas no Brasil.

Projetos como “Uma vaca para o índio”, lançado em 1980 para incentivar a criação comunitária de gado, também surgiram nesse contexto de reconstrução e fortalecimento das comunidades. O projeto permanece até hoje como símbolo da autonomia econômica indígena.

Além da luta pela terra, o Jubileu celebra também conquistas em áreas essenciais como saúde e educação. A criação do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, a formação de professores e agentes de saúde indígena, e a implantação do Grupo de Proteção e Vigilância Territorial (GPVIT) são frutos desse longo percurso de resistência.

O evento deste fim de semana é uma continuidade do Jubileu de Ouro da Missão Maturuca, celebrado em 2023 com grandes momentos de espiritualidade, como a romaria com a Cruz Peregrina, a missa solene com Crisma e homenagens às lideranças e missionários que caminharam junto aos povos. Na ocasião, Dom Evaristo Pascoal Spengler destacou: “Essa missão é um testemunho de compromisso e transformação.”

 

FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Honorato - Rádio Monte Roraima FM
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