Se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não é uma tarefa fácil. O grande número de conteúdo a serem estudados e a insegurança de não conseguir entrar na faculdade rondam a mente dos adolescentes que pretendem realizar a prova em busca do tão sonhado ensino superior. Pensando nisso, o Instituto Pirilampos, em parceria com o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), criou um cursinho preparatório totalmente gratuito como forma de apoiar aqueles que pretendem iniciar uma formação no país em que escolheram viver.
O projeto Enem, que terá seis semanas de duração, é uma continuação do curso preparatório para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), iniciado em julho. A presidente da Instituição, Mariann Gonçalves, explicou que ações que preparam os jovens para um futuro de oportunidades é prioridade.
“Ficamos felizes em fazer essa ponte de incentivo para as oportunidades. Porque quando a gente mostra para os adolescentes que eles não estão sozinhos nessa etapa e de que há esse apoio, eles se sentem mais confiantes em continuar.”
A presidente ainda ressaltou que está sendo trabalhado um plano estratégico para a continuação do projeto em 2023.
“É uma prova extensa e a gente sabe. Mas, é o primeiro passo. Espero que ano que vem consigamos melhorar a nossa estratégia e ter um alcance muito maior de jovens que queiram prestar a prova e seguir estudando para ingressar na universidade.”
O consultor de Educação do UNICEF, Yuri Pires, ressaltou que é de extrema importância a preparação de jovens migrantes para as provas.
“O olhar atento do escritório do UNICEF em Roraima para a construção de planos de vida para a comunidade migrante no contexto migratório do estado expressa-se, também, nesta iniciativa”, disse.
Projeto Enem
A iniciativa surgiu a partir da necessidade de levar informação, acesso à educação e a oportunidades para dentro dos abrigos, ocupações espontâneas e comunidades indígenas onde o Instituto Pirilampos atua em conjunto com o UNICEF e a Adra, por meio da Estratégia de Mobilização Comunitária com a Participação de Adolescentes (CMAPS).
A partir desse sentimento de necessidade, a CMAPS realizou uma pesquisa nos locais de vulnerabilidade com a participação de 185 migrantes e refugiados venezuelanos, na qual constatou-se que cerca de 96% dos que participaram pretendiam cursar o Ensino Superior.
A idealizadora do projeto, Yulibeth Carpintero, explica que, em setembro, o foco do cursinho é atrair adolescentes migrantes e refugiados que estão cursando o Ensino Médio e que desejam fazer o ensino superior.
“Como venezuelana, sei como é chegar a um lugar diferente, com um idioma diferente. Eu sei como é se sentir perdido e não entender como funciona o lugar onde estamos, mas isso não impede de trazermos em nossa bagagem sonhos e esperanças. Fico muito feliz de participar de um processo onde posso ajudar meus colegas venezuelanos a ter acesso a oportunidades”, contou.
A pesquisa realizada pela CMAPS identificou as matérias de matemática, química e biologia como as de maior dificuldade entre os estudantes, bem como a falta de conhecimento entre os refugiados quanto aos exames nacionais. Pensando nisso, a equipe captou junto aos interessados os melhores dias e horários para a realização do cursinho, que iniciará em setembro.
Com 90 inscritos, o projeto já atendeu 60 pessoas no Encceja e irá atender 22 na preparação para o Enem, os outros 8 inscritos tem interesse em participar. A partir das aulas gravadas, os interessados poderão estudar sempre que tiverem tempo, com o apoio de um assistente de aluno.
Projeto Encceja
Por meio do cursinho para o Encceja, Narlis Aguilera conseguiu se preparar para o exame. Mãe de duas crianças, ela conta que esperava as filhas dormirem para estudar.
“Participei da prova do Encceja e foi uma experiência muito legal, porque consegui entender tudo, especialmente a parte de leitura e redação. Acho que tive boa pontuação. Só tenho a agradecer pela força e pelo apoio”, explicou.
A ex-aluna do projeto, Geraldine Salazar, contou que espera conseguir um emprego melhor após obter o título de conclusão do ensino médio por meio do Encceja.
“Eu realmente espero que o cursinho continue, para que outras pessoas iguais a mim tenham acesso e possam se preparar para ir mais seguros à prova”
A professora Ana Paula, que deu aula de matemática no projeto Encceja e que continuará com as aulas para o Enem, explicou que sempre quis dar aula para pessoas mais vulneráveis.
“Amo ensinar do meu jeitinho, sempre com uma linguagem acessível e mostrando que a matemática é algo inerente ao nosso cotidiano. Sempre digo que a educação salva vidas. Ela salvou a minha e o que eu puder fazer para levá-la o mais longe possível irei fazer”, contou.
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