Diocese de Roraima realiza, pela primeira vez, o Jubileu dos Povos Indígenas. A celebração, que acontece em meio às comunidades originárias do estado, propõe um ano de renovação da fé, denúncia das injustiças e valorização da caminhada histórica dos povos indígenas ao lado da Igreja Católica.
Segundo o padre Mattia, da Pastoral Indigenista, o Jubileu é um tempo de graça que convida à reflexão e à ação. “Não é possível pedir perdão a Deus sem sentir as dores do mundo. E entre essas dores, está a negação dos direitos dos povos originários, que há séculos lutam pelo respeito à sua vida e à sua terra”, destacou.
Para ele, o Jubileu é um sinal de esperança, que deve acender o olhar da sociedade para as feridas abertas pelas desigualdades. “O marco temporal é só um dos muitos desafios enfrentados. Também há carência de saúde, educação e oportunidades para a juventude e as mulheres indígenas. O Jubileu é como um refletor que a Diocese acende sobre essa realidade, reafirmando o compromisso com a vida e os direitos fundamentais.”
A celebração também é um gesto de proximidade da Igreja com os povos indígenas, como reforça o missionário padre Joseph Mugerwa, que atua há oito anos na região do Surumu, Raposa Serra do Sol. “Para as comunidades, o Jubileu não é apenas uma festa da Igreja, é a festa dos povos indígenas. É um momento de lembrar que Deus sempre esteve ao lado deles, e que a Igreja nunca os abandonou nessa caminhada.”
Padre Joseph destaca a expectativa e a mobilização nas diferentes regiões do estado: “Amajari, Serra da Lua, São Marcos, Tabaio, Boa Vista... todas estão se organizando com muito entusiasmo. É um marco histórico, especialmente porque também teremos a ordenação de um diácono indígena. Para o povo, isso representa uma grande conquista, ver um deles assumindo um papel dentro da Igreja.”

e padre Paulo da Conceição Fernando Mzé, Superior Regional dos Missionários da Consolata
no Brasil, e a jornalista Dennefer Costa.
O padre Paulo da Conceição Fernando Mzé, Superior Regional dos Missionários da Consolata no Brasil, também veio de São Paulo para participar do Jubileu. Ele acompanha de perto o trabalho dos missionários na Amazônia, onde a congregação atua há 76 anos. “A nossa presença missionária sempre teve como prioridade os povos indígenas. Celebrar esse Jubileu é reconhecer a importância desse povo para a história do Brasil e da Igreja.”
O Superior reforça que sua visita é também uma forma de animação e escuta dos missionários e das comunidades. “Estamos aqui para afirmar que a missão da Igreja precisa ser feita com e para os povos indígenas. Esse Jubileu é um testemunho da fé viva dessas comunidades, da resistência e da esperança que brota do coração da Amazônia.”
Gilmara Barbosa, representante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), destacou a importância simbólica e pastoral desse momento:
"Celebrar os 300 anos de evangelização com o protagonismo indígena é reconhecer a história viva e a fé encarnada nos povos originários. É uma resposta concreta aos apelos do Papa Francisco por uma Igreja com rosto amazônico, indígena e comprometida com a justiça e a vida."
O Jubileu, que vem da palavra hebraica “Yobel” — um instrumento antigo que anunciava um tempo de libertação e graça —, é, segundo os missionários, um convite à conversão da sociedade diante das feridas causadas pela omissão e pela violência histórica contra os povos originários.
A expectativa é que o evento fortaleça os laços entre a Igreja e os povos indígenas, e ecoe uma mensagem clara: a vida, a cultura e os direitos dos povos indígenas devem ser respeitados e celebrados.
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