À medida que o número de pessoas refugiadas e migrantes atravessando a selva de Darién neste ano atinge o patamar sem precedentes de 500 mil – mais que o dobro do ano passado – a OIM, Agência da ONU para as Migrações, e o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, alertaram nesta quinta-feira (7) para uma emergência humanitária cada vez mais profunda nas Américas e pedem por uma abordagem regional abrangente, baseada em cooperação e solidariedade.

A Epicentro da Crise em Darién: Uma Jornada Perigosa em Busca de Segurança

A Região de Darién, localizada entre o Panamá e a Colômbia, emerge como o epicentro da crise de deslocamentos nas Américas, revelando a escala e complexidade dos movimentos populacionais em todo o continente. Pessoas refugiadas e migrantes continuam a enfrentar a perigosa jornada de atravessar essa extensão de terra sem estradas, separando a América do Sul e Central, em busca de segurança e uma vida melhor.

A maioria dessas pessoas vem da Venezuela, Haiti, Equador, bem como de outros países da América do Sul e do Caribe. Além disso, há aqueles que viajam de regiões mais distantes, incluindo a África Subsaariana, Ásia e Oriente Médio. Contudo, as pessoas que optam por atravessar o Darién e outras fronteiras de maneira irregular enfrentam perigos significativos, como riscos naturais, violência sexual e de gênero, assaltos, tráfico de pessoas, extorsão e sequestros.

Amy Pope, Diretora-Geral da OIM, destaca a necessidade de apoio internacional para os países de acolhida, fortalecendo os serviços nacionais e proporcionando oportunidades de integração. "Pessoas migrantes e refugiadas são poderosos impulsionadores para o desenvolvimento e para comunidades e sociedades mais fortes e mais diversas", afirma Pope.

Desafios Colossais: A Chamada para uma Abordagem Colaborativa

Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados, ressalta que os desafios apresentados por esses movimentos populacionais sem precedentes nas Américas são colossais e nenhum país está equipado para lidar com eles isoladamente. A OIM e o ACNUR aconselham uma abordagem mais ampla, considerando as situações nos países de origem, trânsito e destino.

Essa abordagem abrangente implica redobrar os esforços para tratar das causas fundamentais que levam as pessoas a deixarem seus países. Isso inclui maior investimento econômico, combate à desigualdade, acesso a serviços básicos de saúde e educação, além de medidas contra a violência e abusos aos direitos humanos. Um foco essencial é o apoio aos países de acolhida, oferecendo segurança e opções além das perigosas jornadas.

A Importância do Reassentamento e Vias Regulares para a Migração

A OIM e o ACNUR sublinham a importância de expandir o reassentamento de pessoas refugiadas e promover vias regulares para a migração como estratégias cruciais para salvar vidas e aproveitar o potencial de desenvolvimento que pessoas refugiadas e migrantes trazem. Iniciativas existentes devem ser ampliadas, e novas oportunidades para migração regular, como vistos humanitários, programas de trabalho, intercâmbios educacionais e reunificação familiar, podem beneficiar economias em busca de mão de obra, inovação e diversidade.

A OIM alerta que dificultar vias para a migração regular leva as pessoas a optarem por rotas mais perigosas e enriquece os bolsos de contrabandistas de migrantes. O ACNUR destaca que políticas restritivas, que criam barreiras para o refúgio e retornam pessoas a locais onde suas vidas podem estar em risco, violam a legislação internacional de refúgio e não constituem a resposta apropriada.

Crise de deslocamento sem precedentes: Afirma Analía Kim, Porta-Voz do ACNUR para as Américas

Analía Kim, porta-voz da Oficina Regional das Américas do ACNUR, destaca: "A América Latina e o Caribe estão enfrentando uma crise de deslocamento sem precedentes, enquanto a complexidade e a escala aumentam exponencialmente. Isso inclui não apenas as pessoas que se deslocam para o norte, mas também entre países da América do Sul e América Central. O aumento está vinculado a diversas razões, principalmente devido à intensificação das causas profundas do deslocamento, como insegurança, violência, desigualdade, violações aos direitos humanos, incluindo o impacto do câmbio climático na região. Tudo isso é agravado pelo aumento da xenofobia e pelo impacto contínuo da pandemia de COVID-19 nas pessoas em situação de maior vulnerabilidade na região."

Situação Atual em Darién: Números Alarmantes de Deslocamentos

De acordo com dados oficiais do governo do Panamá, mais de quinhentas mil pessoas já atravessaram a selva de Darién a pé até a primeira semana de dezembro deste ano. Este número representa um aumento alarmante em relação ao recorde registrado em 2022, quando cerca de duzentas e cinquenta mil refugiados e migrantes realizaram essa perigosa jornada.

Em meio a essa crise humanitária crescente, a OIM e o ACNUR continuam a trabalhar em conjunto com Estados, sociedade civil e as próprias pessoas refugiadas e migrantes para encontrar respostas adequadas e de longo prazo. Enfrentar esses desafios requer não apenas ações imediatas, mas também uma abordagem colaborativa e abrangente que aborde as causas profundas do deslocamento e promova a segurança, dignidade e oportunidades para todos.