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DEZEMBRO LARANJA ‘Um sol para cada roraimense’: a importância da prevenção do câncer de pele

Assembleia Legislativa propõe e aprova leis que visam proteger a população da doença

DEZEMBRO LARANJA   ‘Um sol para cada roraimense’: a importância da prevenção do câncer de pele
Marley Lima/ Nonato Sousa
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Quem chega a Boa Vista, a única capital do Brasil acima da linha do Equador, logo percebe que a expressão “um sol para cada roraimense” não é apenas uma metáfora. O sol forte é uma realidade cotidiana no Estado, com temperaturas que podem chegar a 40°C.

Essa exposição solar excessiva é o principal fator de risco para o câncer de pele, que é o tipo da doença mais comum no Brasil. Em Roraima, o número de casos tem crescido nos últimos anos.

Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), entre janeiro e outubro de 2023, na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia de Roraima (Unacon-RR), 114 pessoas deram entrada pela primeira vez no tratamento da neoplasia. Em 2022, a unidade contabilizou 102 pacientes, sendo 76 entre janeiro e outubro.

Além das campanhaS de conscientização e de ações de autocuidado, políticas públicas têm um papel central na prevenção do câncer de pele.

“O cenário atual é de aumento do número de câncer de pele, especialmente em nosso Estado. Então, é preciso levar informação à população, mobilizar a sociedade e o poder público no combate à doença. E a Assembleia Legislativa tem cumprido esse papel, elaborando campanhas de conscientização e elaborando leis que amparam e dão maior atenção às pessoas para o perigo à exposição excessiva ao sol”, destacou o presidente do Poder Legislativo, deputado Soldado Sampaio (Republicanos).

Conforme Sampaio, a Assembleia Legislativa propõe e aprova leis que visam proteger a população da doença.

É o caso da Lei nº 1.195/2017, de autoria dos ex-deputados Dhiego Coelho e Jalser Reiner, que concede aos trabalhadores da iniciativa privada e aos domésticos o direito a uma folga anual para realização de exames para prevenção do câncer de pele, de mama, do colo do útero, de próstata e de pulmão.

Outra medida relevante é a Lei nº 1.568/2021, de autoria do ex-deputado Jeferson Alves, que dispõe sobre a prevenção e o combate às doenças associadas à exposição solar do trabalhador rural, pescador e do aquicultor.

A norma estabelece ações para reduzir a exposição ao sol desses trabalhadores, além de promover campanhas educativas para conscientizar a população sobre os riscos da exposição solar excessiva.

Já Lei nº 1.195/2017, de autoria do ex-deputada Lenir Rodrigues, acrescenta dispositivos ao art. 2º da Lei n. 1.251/2018, para incluir absorvente feminino, água mineral e protetor solar nos itens que compõem a cesta básica.

A íntegra dessas e de outras leis estaduais podem ser consultadas no endereço sapl.al.rr.leg.br/, na aba “Normas Jurídicas”.

Campanha de conscientização

Para alertar para os riscos do câncer de pele, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) instituiu o Dezembro Laranja, campanha de conscientização sobre a prevenção e a importância de procurar um dermatologista para orientar sobre as melhores medidas de proteção para a pele.

“Este é o mês da dermatologia, quando prevenimos uma das maiores doenças de pele que enfrentamos em nossa população, principalmente entre os mais idosos. O câncer de pele é uma doença muito comum, especialmente o não melanoma, como o carcinoma basocelular e espinocelular, que são aquelas lesões mais vermelhinhas, mais rosadinhas, perolinhas. Isso aí aparece e está sempre sangrando, cai uma casquinha e não seca. E o câncer de pele melanoma, que é o que a gente tem mais temor, porque ele rapidamente faz metástase”, esclareceu a dermatologista Ana Paula Vitti.

Segundo a especialista, para prevenir a doença, é importante adotar medidas individuais. “Usar protetor solar, evitar o sol das 10h às 15h, usar chapéu, óculos e roupas adequadas são medidas importantes, mas evitar os horários de sol a pino é primordial”, destacou Vitti.

 

Abecedário da prevenção

 Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de pele abrange diversas entidades patológicas originárias de diferentes células da derme e epiderme. Embora seja mais prevalente em pessoas de pele clara acima dos 40 anos, que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol, com fototipos I e II, esse perfil tem diminuído devido à constante exposição dos jovens aos raios solares.

Os principais tipos são o carcinoma de células escamosas e o carcinoma basocelular, ambos chamados de câncer de pele não melanoma, que representam a maioria dos casos, e o câncer de pele melanoma, menos comum, mas mais agressivo.

Fatores como histórico familiar, estilo de vida e estresse podem contribuir para a doença, mas Vitti explica que a intensa exposição solar, especialmente sem proteção, durante a infância e adolescência, pode levar, no futuro, ao desenvolvimento de lesões benignas ou malignas.

“O sol é acumulativo. Até os nove meses, não se deve se expor ao sol, e dos nove meses aos 18 anos, a exposição excessiva pode danificar o DNA da pele, predispondo ao desenvolvimento de tumores. Então, pedimos para que as mães cuidem das crianças e do seu entorno para que não tenha aquelas insolações. Aquelas queimaduras que a gente vê quando vai para o ‘Água Boa’, para a praia, aquelas bolhas em volta do nariz, são o que vão dar o câncer de pele no futuro”, recomendou a dermatologista.

Ficar atento às alterações na pele também pode contribuir significativamente para o diagnóstico precoce. Conhecido como ABCDE da prevenção, a Sociedade Brasileira de Dermatologia orienta que as pessoas observem cinco características em sinais cutâneos:

 

– Assimetria: formato do sinal é irregular

– Bordas irregulares: bordas que não são lisas ou retas

C – Cor: dois ou mais tons

D – Dimensão: aumento de tamanho – lesões do melanoma são maiores que 6 mm

E – Evolução: mudança de tamanho, forma e cor.

 

“Se notar alguma dessas alterações, deve-se procurar imediatamente o dermatologista para avaliação com dermatoscópio, possibilitando diagnóstico preciso e a realização de biópsia, se necessário. Em casos de melanoma, a responsabilidade é expandir a abordagem e realizar o tratamento”, alertou Vitti.

Sinais do sol

Quando ainda não se falava sobre os malefícios do sol para a pele, a servidora pública aposentada Margareth Miranda, de 64 anos, relembra os banhos despreocupados no rio Cauamé durante a juventude. Décadas depois, aos 57 anos, ela descobriu que as horas de lazer sem proteção solar podem ter desencadeado um câncer de pele.

“Provavelmente o que me levou a ter esse câncer foi o fato de quando eu era mais jovem ir para a praia do Cauamé, como todos daqui da minha época, e ficava lá pegando bastante sol sem qualquer proteção. E acredito que foi isso que me fez ter, infelizmente”, disse a aposentada.

Margareth conta que, no início, o sinal que surgiu entre o nariz e a bochecha do lado direito do rosto era apenas uma questão estética. No entanto, mesmo após ser removido três vezes, ele voltava a aparecer. Em uma consulta de rotina, uma dermatologista decidiu realizar uma biópsia.

“Ela olhou meu sinal e disse que estava com um aspecto preocupante, e me sugeriu que fizesse uma biópsia, que confirmou o diagnóstico de carcinoma basocelular. Esse tipo de câncer não é tão agressivo, mas, ainda assim, é importante removê-lo. Ela recomendou a cirurgia micrográfica de Mohs, que consiste em retirar o tumor camada por camada, para garantir que todas as células cancerígenas sejam removidas. Essa cirurgia foi bem-sucedida e não foi necessário fazer nenhum outro tratamento. Estou curada, graças a Deus.”

Após o susto, ela deixa um alerta para os que ainda não sentem as consequências da exposição solar excessiva.

“A gente só aprende apanhando, né? Agora eu não fico sem o protetor solar, principalmente, e me cuido para não ficar tanto exposta ao sol, apesar de ainda gostar. Então, eu recomendo que vocês não se exponham ao sol da forma como eu fazia. Nunca, nunca se expor ao sol sem o protetor solar. Mesmo no dia a dia, mesmo não estando sob o sol, nunca deixar de usar”, aconselhou.

 

Fatores de proteção e quantidades adequados

Porém, não basta apenas passar o filtro solar. Também é preciso atentar-se à quantidade e ao fator de proteção (FPS) – os números acompanhados do símbolo ‘+’ presentes nos rótulos dos filtros, que medem a quantidade de tempo que a pele está protegida contra os raios solares ultravioleta B (UVB), que causam queimaduras solares.

Vitti recomenda o FPS 50+, especialmente na Região Amazônica, que está sobre a linha do Equador. “Usar protetores solares sempre, especialmente na nossa região aqui, que é o 50+. O que significa mais? Tudo acima de 50, 60, 70, 80, 90, é tudo igual. Não existe proteção acima de 50. E é muito importante alertar nosso paciente, nosso usuário de protetor solar, que o pigmento dentro dos protetores solares, chamado óxido de titânio, além de dar uma corzinha, protege o dobro”, sugeriu.

Num contexto socioeconômico em que a aquisição de itens básicos representa um desafio para uma grande parcela da população, Vitti pondera sobre a quantidade apropriada de um produto. Ela recomenda, aproximadamente, uma colher de sopa por área exposta, desencorajando a economia excessiva que comprometeria a eficácia da proteção.

“Ainda temos uma vida difícil no Brasil, mas precisamos de uma quantidade adequada para cobrir as áreas. Então, uma colher de sopa mais ou menos. Mas esse protetor solar numa ida ao Água Boa, por exemplo, em dezembro ou janeiro, esse produto tem que acabar, gente. Não dá para guardar para o ano que vem. É, acaba aí mesmo. Ainda é preciso comprar outro para a próxima exposição.”

 

FONTE/CRÉDITOS: Suellen Gurgel
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