Com mais de 1.670 casos de febre oropouche desde o início do ano, o governo do Amazonas declarou surto no Estado
O total de casos do ano passado não chegou a mil ocorrências. Em nota, a Secretaria de Saúde do Amazonas afirmou que há um aumento significativo e acima da normalidade da doença, conforme critérios do Guia para Investigações de Surtos ou Epidemias do Ministério da Saúde.
O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, avalia que o reconhecimento de surto chega tardiamente e de forma equivocada. O especialista afirma que o estado já registra uma epidemia desde dezembro com a alta anormal de casos, principalmente a capital Manaus.
“Esse não é o termo apropriado. Surto usa-se para minimizar um problema sanitário. Surto, em teoria, é um evento de baixa magnitude, ou seja, que atinge um baixo número de pessoas e por um período de tempo curto. Nós estamos falando de uma epidemia em curso há oito meses, pelo menos, e que já foram diagnosticados cerca de dois mil casos. Na prática, nós devemos ter, pelo menos, dez mil pessoas que tiveram a doença, mas que não foi possível fazer esse diagnóstico”, avalia o pesquisador.
De acordo Orellana, há uma disseminação forte da febre oropouche também em Rondônia, onde há uma unidade da Fiocruz que apoia o trabalho de vigilância laboratorial. O pesquisador afirma que é provável que outros estados da região norte estejam em situação semelhante, mas que os casos estão sendo “altamente subnotificados em função do fraco desempenho das vigilâncias laboratoriais e epidemiológicas desses estados”.
Jesem Orellana afirma que o cenário é preocupante não tanto pela gravidade dos quadros clínicos, pois até o momento não há indicativo de disseminação descontrolada de casos graves, mas pela falta de aprendizado sanitário epidemiológico da nossa vigilância Laboratorial.
“O Brasil, com certeza, fez muitos progressos nos últimos anos, com esse cenário pandêmico da covid-19. Mas agora eu acho que é a hora de virarmos a chave e atentarmos para outros problemas que reemergem e que precisam que as vigilâncias laboratoriais e epidemiológicas dos mais de cinco mil municípios brasileiros, comecem a atentar para novos cenários ou para cenários que podem se agravar, com doenças conhecidas, como a febre oropochue”, alerta.
O vírus oropochue é endêmico da Amazônia e vem registrando surtos no Brasil desde a década de 1970. Diferentemente da Dengue, que tem como mosquito transmissor o Aedes Aegypti, o oropouche é transmitido pela picada do Culicoides paraenses, mais conhecido como maruim. Os sintomas são o mesmo da dengue: febre, dor de cabeça, dor nas articulações, vômito, diarreia.
Na semana passada foi confirmado um caso importado de febre oropouche no estado do Rio de Janeiro. O homem de 42 anos tinha histórico de viagem para o Amazonas. Até o momento não há registros de mortes associadas à doença.
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