O crédito rotativo do cartão de crédito é uma faca de dois gumes financeira. Enquanto muitos brasileiros se beneficiam da praticidade desse recurso, o alto custo que ele carrega pode se transformar em uma armadilha financeira devastadora, principalmente para aqueles que já vivem em situações financeiras precárias. É hora de esmiuçar essa polêmica para que todos possam compreender os riscos envolvidos.
Em primeiro lugar, é importante entender o que é o crédito rotativo. Ele é acionado sempre que você não paga o valor total da fatura do cartão de crédito. Parece simples e conveniente, certo? No entanto, essa conveniência esconde um problema alarmante: a taxa de juros. Em julho, atingiu a estratosférica marca de 15,19% ao mês, o que equivale a incríveis 445,7% ao ano. Isso significa que, ao não quitar o valor total da fatura, você está se endividando a uma taxa que, em comparação com outros países, é exorbitante.
Desde 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu um limite de 30 dias para a utilização do crédito rotativo, forçando os bancos a oferecerem uma alternativa com juros mais baixos após esse período. Mas mesmo com essa regulamentação, estima-se que mais de 85 milhões de brasileiros ainda recorram ao crédito rotativo, e mais de 50% deles não conseguem pagá-lo, resultando em inadimplência.
Aqui está o cerne da questão: por que os juros do crédito rotativo são tão altos? É um ciclo vicioso. A alta taxa de juros reflete o grande risco de inadimplência associado a esse tipo de empréstimo. Em apenas 90 dias, metade do valor emprestado por meio do crédito rotativo não é pago, o que leva a taxas de juros cada vez mais exorbitantes. Essa bola de neve financeira é cruel e difícil de escapar.
Outro fator a ser considerado é o parcelamento das compras no cartão de crédito. Isso também eleva o risco de crédito para as instituições financeiras, levando a taxas de juros ainda maiores. A realidade é que não existe parcelamento sem juros; os juros já estão embutidos no preço final.
Além disso, no Brasil, enfrentamos uma concentração bancária significativa, com apenas cinco grandes bancos controlando mais de 80% das operações de crédito. Essa falta de concorrência não favorece o consumidor.
Diante desse cenário preocupante, é compreensível que o governo e as autoridades monetárias estejam buscando soluções. Um projeto de lei em discussão no Congresso propõe limitar os juros do rotativo e estabelecer um prazo para que os bancos definam um limite para as taxas de cartão. O Banco Central, por sua vez, defende a eliminação do sistema de crédito rotativo em favor de um parcelamento com juros mais baixos.
Os bancos, por sua vez, resistem a qualquer tentativa de regulamentação, alegando que isso poderia prejudicar a oferta de crédito e o sistema de vendas do país. No entanto, é imperativo encontrarmos um equilíbrio que proteja os consumidores e evite a exploração financeira.
Em resumo, o crédito rotativo do cartão de crédito é uma questão complexa, mas que afeta a vida de milhões de brasileiros. É essencial que cada um de nós compreenda os riscos envolvidos e que cobremos medidas que garantam uma relação mais justa e equilibrada entre os bancos e os consumidores. Enquanto isso, é fundamental que todos busquem se educar financeiramente para evitar cair nessa armadilha financeira e proteger seu futuro econômico.
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